Exposição Design e Militância

Cartaz: Ully Lacerda (11º O)

Esta exposição, composta por cerca de 100 cartazes de vários movimentos cívicos e políticos, cobre uma vasta área de intervenção política e cultural reveladora da fervilhante atividade partidária e associativa nos anos imediatamente após o 25 de Abril de 1974. Os objetos gráficos foram cedidos pelo fotógrafo Valter Vinagre, pelo arquivo Ephemera e pelo professor Jerónimo Sousa.

Inauguramos a exposição a 10 de abril, no átrio da Escola.
Aparece!





O 25 de Abril foi o primeiro de muitos outros dias em que a esperança levou as pessoas a sair à rua, a gritar, a acreditar numa comunidade nova feita de entrega e partilha, de liberdade e futuro. Ao longo de um tumultuoso processo que conduziria, de forma lenta mas intempestiva, à estabilidade democrática, muitos milhares de portugueses comprometeram-se politicamente numa miríade de modos e disposições: manifestaram-se, votaram, candidataram-se,  filiaram-se em partidos e outros movimentos, criaram associações e cooperativas. Foram, todos eles, responsáveis por um nível de participação cívica e política nos antípodas da que hoje conhecemos. Entre esses, foram muitos os que se envolveram na refrega política com um tipo de ação diferente e peculiar: a produção de objetos gráficos capazes de motivar, de agregar, de mobilizar. 

Esta exposição é-lhes dedicada.

Muitos destes cartazes são anónimos, pois não se buscava através deles o protagonismo artístico, antes uma maneira eficaz de erguer bandeiras, propagar desígnios e atiçar ideais, emprestando força ao coletivo. Muitos dos que os criaram eram operários gráficos e estudantes, e não designers de profissão. Muita desta propaganda era composta e impressa de forma pouco profissional, por vezes mesmo amadora. No entanto, transpira da maioria deles uma força que resulta de uma combinação única de contexto histórico, convicção ética e engenho. E são hoje por isso também a memória gráfica de um tempo próximo, embora distante, e irrepetível.

Entre estes documentos surgem exemplos muito díspares no que diz respeito às tiragens (de algumas dezenas a muitos milhares); às técnicas (do offset ao stencil artesanal); aos formatos (do A4 ao 70X100 cm); às ambições (de panfletos de pequenos movimentos a cartazes eleitorais de grandes partidos). As situações a que dizem respeito são de âmbito local (manifestações e comícios); nacional (eleições) ou mesmo internacionais (descolonização). Cobrem um período temporal de cerca de 10 anos (aproximadamente entre 1974 e 1984).

A exposição destina-se sobretudo aos jovens que, em grande medida, desconhecem esta produção e a conjuntura sociocultural que lhe está associada. Portugal mudou muito, e esta forma de participação cívica agregadora parece agora anacrónica e desfasada. No entanto, urge recordá-la.

É possível graças ao empréstimo de cartazes por parte do fotógrafo Valter Vinagre, do professor Jerónimo Sousa e do acervo da Ephemera.